Exibição de trechos do filme “Vênus Negra” e discussão sobre a construção do pensamento científico e sua relação com os fatores históricos e valores morais e culturais de uma sociedade, atrelados a produção de estereótipos numa sociedade. Neste momento podem ser explorados dois trechos do filme: uma cena em que o naturalista Georges Cuvier apresenta o molde e desenhos da anatomia do corpo de Sarah Baartman para a comunidade científica como um exemplar de um “espécime singular da humanidade”; e outra cena que retrate os freak shows em que Sarah se apresentava ao público, por meio de uma performance que estereotipava seu comportamento e estética em selvageria.Exibição de trechos do filme “Vênus Negra” e discussão sobre a construção do pensamento científico e sua relação com os fatores históricos e valores morais e culturais de uma sociedade, atrelados a produção de estereótipos numa sociedade. Neste momento podem ser explorados dois trechos do filme: uma cena em que o naturalista Georges Cuvier apresenta o molde e desenhos da anatomia do corpo de Sarah Baartman para a comunidade científica como um exemplar de um “espécime singular da humanidade”; e outra cena que retrate os freak shows em que Sarah se apresentava ao público, por meio de uma performance que estereotipava seu comportamento e estética em selvageria. 

Na proposta originalmente elaborada e aplicada exibimos e discutimos apenas essas duas cenas, mas sugerimos que além delas seja exibida a cena mais contemporânea e menos fictícia da chegada dos restos mortais de Sarah à África do Sul, e da cerimôna de enterro. Por meio dessa cena, é possível dar visibilidade a luta do povo Khoisan para que Sarah pudesse ser enterrada como uma mulher que retorna para seu lar, de modo purificar simbolicamente o processo de objetificação que sofreu, e ao processo de repatriação do corpo de Sarah, mediado por Nelson Mandela, então presidente da África do Sul.  Assim, é possível promover o reconhecimento do protagonismo e resistência do povo negro no enfrentamento do colonialismo, e gerar sentimento de pertencimento étnico-racial positivo entre estudantes negros.

Nessas aulas, a abordagem interdisciplinar com a disciplina História, é fundamental, para contextualização histórica do que acontecia naquela época na Europa. Por exemplo, é importante relacionar os freak shows com a prática das coleções imperiais, as feiras e exibições antropológicas, frequentes na Europa do século XIX, as quais tinham o objetivo de mostrar a força das nações imperialistas da Europa e facilitar e justificar a subjugação dos povos colonizados. De modo semelhante, pode ser feito um exame da relação entre essas práticas de exibição, animalização e objetificação de povos não-europeus, a política imperialista europeia e o racismo científico nesse período, destacando, por exemplo, como os conceitos darwinistas de competição e extinção racial foram empregados na naturalização e legitimação dos extermínios e genocídios de grupos étnicos promovidos pelo imperialismo britânico, a exemplo do extermínio dos tasmânios na década de 1870, ou as fomes na Índia durante o domínio britânico (Grande Fome de 1876-1878, por exemplo).