Materiais Curriculares Educativos

APRESENTAÇÃO

Este Material Curricular Educativo apresenta possibilidades de abordar conteúdos relativos à herança e variabilidade humana a partir do debate social sobre cotas raciais para ingresso de estudantes negros na universidade pública.  O exame dos argumentos usados nesse debate permite a abordagem de conceitos de genética e evolução, como os de herança, genótipo, fenótipo, ancestralidade e variabilidade, de modo articulado aos objetivos da educação das relações étnico-raciais, e a partir dos princípios da educação em direitos humanos. Trata-se de uma sequência didática organizada em torno de uma questão sociocientífica, por meio da qual, os estudantes são solicitados a mobilizar conhecimentos científicos, realizar análise ética e política e tomar decisão de beneficiar-se ou não das cotas raciais, e por quais critérios. Esclarecemos que a despeito das cotas raciais serem aplicáveis não apenas à população negra como também à população indígena, neste MCE o enfoque maior é dado ao debate social que tem sido empreendido no país a respeito do ingresso por meio de vagas reservadas à população negra.

Por que debater cotas no ensino de genética?

Alguns dos argumentos contrários às cotas raciais, mais recorrentes nos debates públicos, giram em torno da dificuldade de definir quem é negro em um país miscigenado, e portanto, quem pode/deve ser beneficiado com essa política afirmativa. Esse argumento não raramente tem se apoiado na afirmação de geneticistas contemporâneos de que do ponto de vista biológico, as raças humanas não existem. E mais especificamente, em dados apresentados por estudos de mapeamento de ancestralidade de grupos populacionais com base em marcadores genéticos, propõem que na população brasileira não há correspondência entre cor da pele e ancestralidade genômica (https://issuu.com/biohoffmann/docs/ci_ncia_hoje__v.27__n.159__abr__2000_-_retrato_mol).  A respeito dessa segunda afirmação, um caso bastante explorado pela mídia foi o resultado do teste de ancestralidade de Neguinho da Beija Flor, realizado pelo laboratório coordenado pelo geneticista Sérgio Pena, segundo o qual, o sambista, um dos ícones da identidade negra no Brasil, teria 67.1% de ancestralidade europeia (https://www.bbc.com/portuguese/reporterbbc/story/2007/05/070424_dna_neguinho_cg).   

Em contraposição, membros do movimento negro, educadores e gestores favoráveis às cotas têm questionado a autoridade e papel da genética nas decisões sobre as políticas afirmativas, argumentando que raça no Brasil funciona como categoria social e não biológica, e que a discriminação racial em nosso país é baseada na aparência e não no genótipo.  Basta observarmos os dados sobre homicídio por armas de fogo, violência policial ou obstétrica, e outras violações de direitos humanos sofridas por àqueles e àquelas que têm a pele negra, para não termos dúvidas de quem é negro no Brasil.

Como podemos concluir, o exame desses argumentos, demandam o conhecimento de conceitos como os de herança, genótipo, fenótipo, ancestralidade e variabilidade, assim como das questões éticas e políticas que permeiam a prática, produção e divulgação do conhecimento no campo da genética. A abordagem desses conceitos pode ser articulada a objetivos da educação para relações étnico-raciais e em direitos humanos, uma vez que o referido debate gera a demanda de entendermos o desenvolvimento histórico do conceito de raça, o problema racial brasileiro e a relação entre racismo e desigualdades sociais no Brasil, as noções de reparo social e sujeito de direito.

Participaram da elaboração, aplicação e investigação dessa Material Educativo Curricular, os seguintes colaboradores: Diego de Brito Lima, Mariléa Gonçalves Ribeiro, Juan Manuel Sánchez Arteaga e Claudia Sepulveda.

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