Materiais Curriculares Educativos

ORGANIZAÇÃO PEDAGÓGICA

São sugeridos, a seguir, alguns objetivos educacionais e conteúdos curriculares, relativos às áreas de conhecimento do ensino médio que podem ser abordados a partir da vida e obra de Manuel Querino. 

Consideramos que a trajetória de Querino pode ser trabalhada para construção de identidade étnico-racial positiva, ao examinarmos suas estratégias e capacidade de encontrar brechas e construir caminhos de inserir-se no meio intelectual branco, e ainda de modo a representar e fazer-se ouvir a voz de negros da classe trabalhadora. Além disso, o exame de sua obra nos permite promover valorização da história e cultura africana e afrodiaspórica ao oferecer um apanhado do acervo tecnológico, cultural e artístico africano e afrodescendente no Brasil colonial, imperial e da primeira república, ambos, interpretados sob a perspectiva de um afrodescendente.  De outro modo, o embate de Querino contra o racismo científico praticado na Faculdade de Medicina da Bahia no século XIX nos permite examinar de forma crítica a origem de estereótipos negativos dirigidos à população negra, e a falaciosa noção de supremacia branca. 

Em relação à área das Ciências Humanas, é possível: examinarmos o papel que o positivismo, evolucionismo e darwinismo social tiveram na interpretação e determinação das relações sociais no século XIX; analisarmos como essas matrizes foram apropriadas pela elite intelectual brasileira na transição do império para a república, em suas interpretações racialistas a respeito dos desafios e problemas sociais do período como as mudanças na organização do trabalho, fim do sistema escravista, modificação do regime político; e como as empregaram em seus projetos de construção de identidade nacional e modernização da nação (para tanto podem ser usados como apoio as obras de SCHWARCZ, 1993; CARULA, 2009).

 Essa abordagem poderá ser enriquecida com o diálogo com a área das Ciências Nautais, que poderá promover uma compreensão das ideias que estruturam o pensamento darwinista e suas implicações sociais. Entre elas, importante examinar os conceitos de competição inter-racial e extinção racial apesentados por Darwin em sua obra A origem do Homem e Seleção Sexual de 1871, geralmente pouco explorados no ensino de Biologia. Por meio desse exame é possível abordar conceitos importantes no ensino de evolução como: competição, seleção natural, adaptação, sobrevivência e reprodução diferencial. É possível também examinar o desenvolvimento histórico do conceito de raça por esta ciência, a polêmica contemporânea sobre seu estatuto científico, em decorrência dos estudos sobre variabilidade genética humana, e os estudos de composição étnica de populações com uso de marcadores genéticos de ancestralidade (como apoio, pode ser consultado o texto de ARTEAGA, SEPULVEDA E EL-HANI, 2013 e o Material Curricular Educativo sobre Cotas e Raça, nessa plataforma)

Em relação ao ensino da língua portuguesa, pode-se promover um exame da representação dos afro-brasileiros e, seu papel na formação cultural do Brasil e identidade nacional, na literatura brasileira. É possível fazê-lo, por exemplo, desde os romances realistas e naturalistas, influenciados pelas teorias raciais e ideologia do embranquecimento, às obras posteriores a 1930 que enaltecem virtudes da miscigenação e da democracia racial brasileira, até a produção de uma literatura negra a partir do final da década de 1970 (como apoio ver, por exemplo, MÉRIAN, 2008).  

Ainda na área das linguagens, nas obras Os Artistas Baianos (1905) e As artes na Bahia (1913), Querino nos apresenta uma extensa contribuição sobre a história das artes na Bahia colonial e imperial. A partir  do exame dessas obras, é possível promovermos: o exame dos aspectos históricos dos produtos e processos artísticos brasileiros; a problematização de narrativas eurocêntricas a respeito desses processos e das diversas categorizações da arte. 

Essas sugestões são apenas indicações para motivar os professores a buscarem diversos caminhos de explorar o imenso potencial que a trajetória e a produção deste intelectual negro apresentam para promover educação das relações étnico-raciais. Aguardamos novas ideias e críticas por meio do contato feito com vocês.

Referências e Sugestões de Leitura

ALBUQUERQUE, W.R. O jogo da dissimulação. Abolição e cidadania negra no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras. 2009. 319p.

BACELAR, Jeferson A. De Candomblés e Negros Ilustres. In: NASCIMENTO, J.; GAMA, H. (orgs.). Manuel R. Querino: seus escritos na Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador: IGHB, 2009. pp. 177-184.

CARULA, K. A tribuna da Ciência. As conferências populares da Glória e as discussões do darwinismo na imprensa carioca (1873-1880). São Paulo: Annablume/FAPESB.2009. 185p.

GLEDHILL, H. S. Manuel Querino e a luta contra o Racismo Científico. In: NASCIMENTO, J.; GAMA, H. (Org.). Personalidades Negras, Trajetórias e Estratégias Políticas. 1ed. Salvador: Quarteto, 2012, p. 17-54.

GOMES, N. L. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: uma breve discussão. In: BRASIL. Educação Anti-racista: caminhos abertos pela Lei federal nº 10.639/03. Brasília, MEC, Secretaria de educação continuada e alfabetização e diversidade, 2005. P. 39 – 62

MÉRIAN, J.Y. O negro na literatura brasileira versus uma literatura afro-brasileira: mito e literatura. Navegações, v. 1, n. 1, p. 50-60. 2008.

MUNANGA, K. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia. Cadernos Penesb, v. 5, p. 16-34, 2004.

PÉCAUT, Daniel. Intelectuais e a Política no Brasil: entre o povo e a nação. Tradução Maria Júlia Goldwasser. São Paulo: Ática, 1990.

QUERINO, M.R. O colono Preto como fator da civilização Brasileira. Afro-Ásia, n. 13, pp. 143-158. [1918] 1980.

QUERINO, M.R. Costumes Africanos no Brasil. Prefácio e notas de Artur Ramos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1938.

QUERINO, M.R. A Bahia de outrora. 3. ed. Salvador: Livraria Progresso Editora, 1946.

QUERINO, M.R. Os Artistas baianos: Indicações Bibliográficas. In: NASCIMENTO, J.; GAMA, H. Manuel R. Querino. Seus artigos na Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador: IGHB. [1905] 2009.pp. 107-126.

REIS, C.A. Do convívio e colaboração das raças: elogio da mestiçagem e reabilitação do negro em Manuel Querino. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em História) – Universidade Estadual de São Paulo. Franca. 2009. 179f.

SÁNCHEZ-ARTEAGA, J. M.; SEPÚLVEDA, C.; EL-HANI, C. N. Racismo científico, procesos de alterización y enseñanza de ciencias. Magis. Revista Internacional de Investigación en Educación, v. 6, n. 12, p. 55-67, 2013.

SCHWARCZ, L. M. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.287p.

SEPULVEDA, C. A. S. O progresso, a cidade e as letras: O intelectual e a transição do século XIX para o XX em Salvador da Bahia. 305 f. il. 2014. Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, Formation Doctorale Territoires, Sociétés, Développement da École des Hautes Études en Sciences Sociales. Salvador, 2014. 305f.

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